não respondas

os olhos da Maria estavam transparentes. via-se, através deles, a confusão de pensamentos que lhe ia naquela cabeça onde parecia nada caber. afinal cabia tanta coisa. a ideia de perder o Miguel assombrou-lhe o dia. ele, talvez fosse a única pessoa que não reparava naqueles olhos. naqueles olhos que diziam tudo. para ele estava tudo bem quando lhe tocava nas pernas e dizia que a amava. para ele isso chegava. essa maneira cor-de-rosa de ver o mundo que ela desconhecia naquele homem. havia tanto para além disso, havia tanto que ela escondia por ter medo de lhe destruir os sonhos. não estava tudo bem. quase que estava tudo mal. e naquele dia, os olhos dela diziam-lhe tudo o que ele precisava de saber. mas, mais uma vez ele despediu-se dela com um beijo e disse-lhe que a amava enquanto lhe tocava nas pernas. estava tudo bem.
já em casa, a cabeça dela procurava por respostas a perguntas que nunca tinham sido feitas. quis telefonar-lhe a perguntar se estava tudo bem, se não seria melhor pensarem sobre a relação ou se ainda havia amor naqueles beijos. talvez gritar-lhe. mas naquela altura nada fazia sentido. tudo parecia demasiado ridículo e ela tinha tanto medo. olhou-se ao espelho com os olhos inchados de lágrimas e sussurrou "não respondas".

Sem comentários:

Enviar um comentário