isto e aquilo

passaram tantos anos... talvez a vida toda. e ela passou esse tempo todo a dizer que era desta “isto”, que era desta “aquilo”, que não aguentava mais X, nem Y, nem Z. era sempre naquele momento, naquele mesmo segundo! ela subiria até ao ponto mais alto e gritaria para toda a gente ouvir. iriam ficar todos calados, petrificados, a escutá-la com atenção. qualquer que fosse o discurso improvisado. que tinha sido tantas vezes estudado... mas esse momento nunca chegava. porque naquele segundo aconteceu não-sei-quê e no outro segundo apareceu não-sei-quem e no outro imediatamente a seguir já não havia tempo para nada. tudo contava como desculpa esfarrapada para fugir. e a vítima era sempre a mesma. sempre. a parva da Filipa que insistia em comprometer a sua palavra de honra todas as vezes que tentava anunciar a sua importante decisão. nunca ninguém soube o que era. nem sonharam. nunca. nem ela, talvez. 
um dia, a verdade finalmente chegou e ela percebeu que o fim nunca iria chegar realmente e que as coisas nunca iriam mudar. mas poderiam ser encaradas de outra forma. nesse dia, a Filipa percebeu que era vítima dela própria e que, de certa forma, isso até era uma coisa boa. 

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