sem chão

a Margarida... a  Margarida fazia tudo para agradar o Diogo. e mesmo quando ele se ia embora, ela abria os braços para o receber quando quisesse voltar. era uma sonhadora. lá no fundo, ele sabia que um dia ela se ia cansar. esse dia chegou. e nesse dia... nesse dia ela saiu da vida dele sem ele saber. nesse dia, ela viu-o chorar pela primeira vez, enquanto lhe gritava em silêncio que a amava. a claustrofobia que ela sentia naquele momento quase não a deixava respirar. quis fugir, quis bater-lhe, quis correr, quis gritar. sentiu-se rodeada por um milhão de perguntas às quais o Diogo não sabia responder. choraram os dois, abraçados, sem ela perceber o porquê de cada lágrima que lhes escorria pela cara. fugiu. fugiu do homem que amava como uma cobarde, mas não parecia haver outra solução.
no cinema com os amigos, a Margarida chorava enquanto via o pior filme da sua vida. mas de alguma maneira, toda aquela loucura que passava no ecrã a fez adormecer de olhos abertos. sonhou acordada com tudo o que queria dizer ao Diogo. pensou, planeou, organizou e distribuiu tudo por ordem de importância. quase que escreveu o sermão para não o esquecer mas aquela sala era demasiado escura. o filme acabou sem que ela decorasse alguma coisa do que tinha visto. os seus pensamentos foram interrompidos pelas luzes, que tinham voltado a acender. apressou-se a limpar as lágrimas e saiu da sala com pressa, sem se despedir de ninguém.
já em casa, quis telefonar-lhe e dizer-lhe tudo o que tinha pensado. ficou apavorada. marcou o número infinitas vezes até perceber que, na verdade, ela não sabia o que lhe queria dizer. sabia apenas que estava magoada, confusa e que aquele homem lhe tinha tirado o chão. não era preciso telefonar, mandar mensagem ou avisar o que quer que fosse. e por muito que lhe doesse... e doía tanto. mas por muito que lhe doesse, a sua decisão estava tomada. a Margarida tinha saído da vida do Diogo, com a esperança de que ele, um dia, aprendesse a lutar pela mulher que amava.

1 comentário:

  1. De uma Catarina para outra: escreveste a história da minha vida, apenas com nomes diferentes.
    Obrigado.

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