o fato do funeral

os olhos do Luís quase não existiam, já não dizia coisa com coisa e a sua energia era cada vez menos depois de ter gritado de uma maneira que nunca ninguém tinha ouvido. pálido e apático, passeava-se pelo quarto, fazendo conjuntos de fatos e de gravatas. não ouvia ninguém, não respondia a ninguém. estava apenas preocupado com o que iria vestir no dia seguinte. nunca o Luís tinha sido assim. com os conjuntos feitos em cima da cama, parou e ficou a observá-los como que a tentar decidir qual ia escolher. Laura observava-o da porta do quarto, preocupada, sem que ele percebesse que ela ali estava. quando ele finalmente se decidiu pelo fato que queria, arrumou os outros e voltou para a sala junto da família. sentou-se na cadeira do costume, com os pés em cima de um banco. Laura perguntou-lhe se já tinha escolhido o fato para o funeral. Luís voltou a irritar-se "mas qual funeral? já te disse que não morreu ninguém!". à sua volta todos começaram a chorar. a filha mais nova deu-lhe um beijo carinhoso na testa, como se de uma criança se tratasse. deu-lhe um comprido para as mãos e um copo com água. fez-lhe sinal para tomar, acompanhado por uma festa na cabeça. "mas vocês estão todos parvos? parem de chorar!", resmungou o Luís antes de voltar a adormecer.

2 comentários:

  1. Queres escrever uma história sobre uma pessoa que vive longe e gostava de estar mais perto para limpar as lágrimas a uma das pessoas de que mais gosta neste mundo? É que se quiseres, eu conto-te uma.

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